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Tropeiro e Comprador de Gado:Tomás Cardoso-1917

A realização dessa matéria se dá ao estudo da dissertação “Tropas e Tropeiros” de Jurema Mascarenhas Paes, UFBA, 2001. O texto foi transcrito e acrescentados alguns grifos meus...

Através desta aventura por caminhos e trilhas surpreendentes, principalmente nas estradas que ligavam Bahia a São Paulo no comércio feito pelos tropeiros, vamos  reconstruir o cotidiano estradeiro do tropeiro, e as relações estabelecidas por este personagem histórico com os caminhos e pousos, com seus ajudantes de tropas, com as cidades em que aportavam, com os fazendeiros, enfim suas relações sociais, portanto, políticas e econômicas. A exploração do ouro, nas Minas Gerais, já vinha, desde o final do século XVII, levando, para esta localidade e suas proximidades, grande deslocamento populacional, povoando e desenvolvendo a economia no interior da colônia. A criação de gado, no Sertão da província baiana, juntamente com a entrada dos sertanistas e bandeirantes e a descoberta do ouro na nascente dos Rios das Velhas e Rio de Contas são apontados como fatores que mais contribuíram para a exploração do interior da Bahia, entretanto, o reconhecimento e apoio da coroa para exploração do minério só foi efetivado no século XIX, quando da escassez do ouro nas Minas Gerais, o que não significa que antes disso não tenha havido exploração destes minérios na Chapada. A Coroa não tinha interesse em deslocar o controle sobre a exploração do ouro das Minas Gerais para a Chapada, uma vez que o grande foco, reconhecido, do minério localizava-se naquela região. A partir dai passou a circular maior número de tropas por esta região, pois a exploração do ouro gerou o aumento populacional, maior necessidade de consumo de mão de obra escrava trazidas de Salvador, maior consumo de alimentos principalmente o gado vindo do médio São Francisco. Nesta região desenvolveram-se fazendas de subsistência para manter a estrutura da exploração do ouro, além da maior necessidade de mantimentos básicos para se montar a estrutura local de exploração e de povoação. A atividade tropeira chegou a ser atividade econômica central, principal produto concentrador de riquezas. O tropeirismo surge como atividade de apoio à mineração e contribuiu para o desenvolvimento das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste no sentido econômico dentro do contexto colonial. Pelo Sudeste e Sul do Brasil entraram os primeiros muares trazidos das colônias espanholas da América. Estabeleceram-se ai os primeiros produtores e surgiram as grandes feiras de animais, como a de Sorocaba, em São Paulo, que era o centro da venda de muares. Na feira de Sorocaba reuniam-se tropeiros do Centro e do Sul do  pais e até alguns do Nordeste. Os tropeiros foram identificados como os novos bandeirantes, responsáveis pela movimentação da riqueza do país e continuadores da obra de desbravamento e civilização da terra. Assim é que o ciclo do muar estaria ligado ao ciclo do ouro, depois ao ciclo do açúcar  e, mais adiante, ao ciclo do café, não tendo outra alternativa para o tropeiro a não ser procurar outro espaço produtor para inserir-se mais uma vez à produção e ao comércio. O tropeirismo possui diversas categorias, ou seja: a relacionada ao comércio de muares, a relacionada a produtos de exportação, e a ligada aos transportes de mercadorias de abastecimento interno (a policultura e a pecuária) que eram produzidas dentro da colônia para abastecer as regiões interioranas e as suas principais vilas e cidades. A pecuária e a policultura, após a mineração, estabeleceram-se em várias regiões do interior da colônia, dando continuidade ao trabalho das tropas que serviram de transporte para as mercadorias de exportação e também para as necessidades internas. Além de portadoras de mercadorias, as tropas  faziam o transporte de pessoas e de escravos para serem vendidos no interior. Durante os primeiros séculos da colonização brasileira, os sertões baianos conservaram-se virgens da invasão dos colonizadores que a principio se mantiveram na costa. Somente em 1549 com a chegada de Thomé de Souza (Governador da Bahia), vai se dar inicio, por ordem de D. João III, a colonização e exploração dos sertões desconhecidos, quando vão ser montadas as primeiras bandeiras e divisas das sesmarias. E a partir do século XVII e inicio do XVIII vão se intensificar o processo de povoamento colonial. E daí  surgiram núcleos de povoamentos em duas direções distintas, movidos pela expansão econômica com a implantação das fazendas de gado, seguindo o curso dos rios. Os primeiros caminhos a serem abertos no Brasil colonial reportam o tempo dos sertanistas e bandeirantes, caçadores de índios e esmeraldas, que seguindo os passos dos bugres, grandes conhecedores da região, procurando riquezas e até mesmo muitas vezes fixando fazendas com criações de gado, deixaram suas marcas de exploração e fixação. Os sertanistas baianos além dos rastros indígenas, acompanhavam os caminhos abertos pelas boiadas, que se proliferavam, sobretudo na região do Rio São Francisco. O Rio das Velhas era um importante ponto de parada e encontro de exploradores de diversas paragens Bahia, São Paulo, Minas, Goiás e Rio de Janeiro, desenvolvendo grande comércio. Além dos primeiros sertanistas e bandeirantes, que exploraram as regiões citadas acima, existiram também as bandeiras povoadoras como foi o caso da família Garcia D’Ávila e dos Guedes de Brito, que se apossaram de grandes extensões de terra. A historiografia considera Garcia D’Ávila como o primeiro grande latifundiário desta região, seus domínios vão, em 1573, além de Tatuapara, centro de seus dez currais de vacas disseminados em vasta área de território que se limita, ao sul pelo Jacuípe, ao norte pelo rio Itapicuru4.. É o inicio da arrancada para o São Francisco. Os Guedes de Brito da Casa da Ponte possuíam cento e sessenta léguas na margem direita do São Francisco, indo este enorme latifúndio desde o Morro de Chapéu, Malhada até á nascença do Rio das Velhas. O processo de povoamento do interior baiano também se deu graças à descoberta do ouro na Chapada Diamantina, contribuindo para uma maior circulação econômica. Grande foi o deslocamento populacional para as regiões das minas tanto das Gerais, como da Bahia, seguindo o curso dos Rios das Velhas, Rio São Francisco, Rio de Contas e Rio Itapicuru. Grandes contingentes de escravos foram levados para trabalhar na exploração do ouro, fortalecendo o mercado escravo que era sediado no litoral baiano. As explorações dos sertanistas baianos, bandeirantes paulistas, juntamente com as povoações das missões jesuíticas, os caminhos desbravados pelos criadores de gado e a descoberta do ouro nas Gerais resultaram nos primeiros movimentos das povoações e o surgimento das estradas do interior do Brasil. O fator importante de ocupação do interior, antes do período do ouro, foi a criação de gado. No século XVIII, novos caminhos foram abertos da Bahia para Minas, com a exploração do ouro. O gado para abate tinha que vir a pé. Em longas viagens de várias etapas entre a Bahia e São Paulo.Com o crescimento do consumo de gado de corte, aumentava, consequentemente, o criatório de gado e com ele a importância das grandes casas latifundiárias dos Guedes de Brito, depois a sucessora casa da Ponte e novas estradas das boiadas continuavam a brotar, fazendo novas ligações do interior com a capital e uma dessas estradas passava por Malhada. No Século XVII, começa as bandeiras paulistas a agirem na região do Rio São Francisco e o gado que chegava para o pioneiro Garcia D’Avila se multiplicava nas imensas sesmarias dos seus descendentes. Depois da descoberta do ouro, no século XVII, mais precisamente no século XV. A circulação interna de riquezas na colônia tinha aumentado, levando a coroa a adotar uma política de controle tributária severo. Diante deste contexto, a coroa resolve dar início a uma política oficial de atuação direta em assuntos de caminhos e estradas, fechava-se a Bahia por terra para o Sul através de uma Carta Régia. A melhoria das estradas, sempre tinha um interesse econômico por parte da política portuguesa. As estradas denominadas de estrada real foram pavimentadas com pedras, por Pedro Leal nos trechos íngremes, para o melhor escoamento dos produtos que lhe interessavam,  sobretudo o ouro como fonte de exploração. Não demorou muito até Portugal transformar a estrada real em tema prioritário da segurança nacional. Como única via entre os portos e as minas de ouro e diamantes, tanto o caminho Velho quanto o Novo mereciam vigilância constante. As trilhas receberam pedágios, postos de controle, entre eles, tínhamos um entreposto em Malhada, localizado, entre o Pontal e o Porto de Malhada para cobrança de impostos.  E foram expressamente proibidas, sob  pena de morte, a abertura de novas vias de acesso. As cargas partiam das Minas , passando por Malhada, para Salvador, em lombo de escravos ou de burros, transportada em grandes cestas e baús de madeira, e ao longo da jornada existiam as paradas onde as cargas eram pesadas, medidas e aliviadas do quinto, a taxa cobrada pela coroa. O caminho para o Rio das Velhas foi fundamental para o intercâmbio de toda espécie de produtos da região de Minas Gerais, Goiás. Rio de Janeiro, São Paulo e a Bahia, daí chegavam e partiam tropas chucras de muares e tropas bem equipadas levando todo tipo de mercadoria desde artigos de luxo vindo do reino ao ouro, algodão e inclusive escravos. Dentre os produtos que circulavam por esta estrada estava o gado de corte que vinha do Rio São Francisco diretamente para as Minas Gerais. Que servia para a alimentação, subsistência das vilas e províncias coloniais e também para a produção do couro que iria embalar o fumo e se fazer os apetrechos necessários para as tropas. Nos caminhos da Bahia para Minas existia toda espécie de comerciante, que fazia os mais diversos negócios para acumular capital, era gado, terras, mineração, venda e compra de escravos, o importante era a circulação de capital. O tropeiro foi peça importante na ligação do interior com o litoral do Brasil. Ele era comerciante, era emissário oficial, era correio, intermediário de negócios, portador de bilhetes, recados, aviador de encomendas e receitas. Era um traço de união entre os centros urbanos afastados. Os tropeiros deram continuidade ao desbravamento das regiões afastadas do litoral, seguindo o caminho dos bandeirantes e sertanistas, primeiros desbravadores das terras do interior do Brasil. As tropas surgiram em fins do século XVII e início do século XVIII, em unção da descoberta do ouro em Minas Gerais. No século XIX, as tropas já faziam parte do cenário histórico e a sua importância não diminuiu com o declínio da exploração aurífera de Minas Gerais. Muito pelo contrário, as tropas continuaram responsáveis pelo transporte de mercadorias e de mão de obra escrava, para locais onde não existiam vias fluviais navegáveis nem a presença de estradas-de-ferro. Além do tropeiro, tínhamos também outras pessoas que auxiliavam o transporte, entre eles o arrieiro.  O Arrieiro era o peão promovido a este cargo pela antiguidade e prática no serviço. Seguia, geralmente, montado circulando os lotes. Era como um superintendente a visitar cada lote, a olhar cada besta para alertar o responsável pelo lote de qualquer possível problema. O Arrieiro, muitas vezes, era um exímio ferreiro. Sua função consistia também em pregar as ferraduras nos animais da tropa, geralmente acumulando a profissão de veterinário. Uma tropa bem sucedida era bem organizada, com burros usando ferraduras bem colocadas, firmes e com lombos sadios, sem pisaduras e bem protegidos para não atingirem os suadouros das cangalhas. A tropa era formada de lotes de sete animais cada: o arrieiro era responsável por cuidar de cada lote.
A foto abaixo foi tirada no Jardim da Luz em São Paulo,no dia 25/12/1917,nela temos o Tropeiro e Comprador de gado, Tomás Cardoso da Silva, que fazia o percurso por nossa região levando e vendendo boiadas de São Paulo ao Centro Norte baiano, entre eles a cidade de Mundo Novo. Ele natural de Riacho de Santana, teve dois filhos: Ladislau Cardoso, popular Seu Lau (In Memorian) e Crescêncio Cardoso. Ladislau Cardoso,  teve como filhos Zé de Lau, Joaquim de Lau,Lourdes,Rita,Maria,Concebida... E Seu Crescêncio teve como filhos: Antenor, Seu Salvador,Seu Antonio Concebido... Entre as décadas de 1910 a 1920 ele comprava/vendia gado no percurso de São Paulo a Bahia. Entre umas de suas viagens, levando a boiada para Mundo Novo, perdeu toda a boiada numa enchente, devido a um período chuvoso muito intenso. Nesse momento de desespero, ele foi acudido pelo amigo Joaquim Venâncio, que sugeriu a Seu Tomás que vendesse tudo o que tinha para comprar umas terras na Região de Malhada. E que como a terra era muita, ele deveria encontrar mais um sócio para comprarem as 180 mil hectares que estavam sendo vendidas. Assim fazendo, Seu Tomás se juntou ao Sr Juvêncio Moura,Pai de Dr. Waldemar Moura  e comprou as ditas terras da Fazenda Canabrava, no limite de Palmas de Monte Alto a Malhada. Os filhos de Seu Tomás Cardoso, se mudaram para Malhada, após a morte do mesmo e com a liberação da escritura com o intuito de cuidar das terras herdadas do pai. Entre 1932 a 1933 ,ele veio a falecer em Malhada, vítima de Febre Tifo. A Febre tifoide é uma doença infectocontagiosa causada pela ingestão da bactéria Salmonella enterica sorotipo Typhi (Salmonella typhi) em alimentos ou água contaminados. Trata-se de uma forma de salmonelose restrita aos seres humanos e caracterizados por sintomas proeminentes, sendo endêmica em várias regiões do mundo. Essa doença provoca Sintomas na primeira semana os referidos sintomas: Febre alta (40 graus);Forte diarreia; Mal estar; Tosse seca; Dor de cabeça; Dor de barriga.. A febre tifoide vitimou várias personagens históricas, incluindo a. A Princesa Leopoldina, filha do Imperador do Brasil Dom Pedro II, morreu de febre tifoide em 7 de Fevereiro de 1871, aos 23 anos de idade. Seu Tomás Cardoso, vindo com sua tropa,ao chegar em Malhada com a referida doença, foi tratado por Sá Zuca-In Memorian-(Mãe de Zeca Peinha) e Sá Lúcia(In Memorian). A demora foi de poucos dias para seu falecimento. Ao ser noticiado seu falecimento, o seu amigo Zezin Dente de Ouro(In Memorian-Pai de Seu Rosalvo Oliveira),desfez a tropa e pediu o arrieiro responsável para levar tudo e noticiar á família da morte de Seu Tomás em Riacho de Santana. Ele foi sepultado em Malhada, no antigo cemitério malhadense que existia onde hoje é a atual quadra poliesportiva. Em relação, ao documento da compra de terras de Malhada, a escritura oficial, só saiu depois do falecimento de Seu Tomás, motivo que levou os filhos herdeiros a se mudarem e constituírem morada fixa em Malhada, para tomar conta das terras do pai. Infelizmente, no momento da partilha, foram tocados para família de Seu Tomás, apenas 49 mil hectares de terra entre a Fazenda Canabrava, limite de Palmas de Monte Alto a Cachoeira em Malhada.
Depoentes Diretos e Indiretos: Artur Viana, Antenor Cardoso, Lucas Cardoso, Salvador Cardoso, Zé de Lau, Dalva Farias...
Foto de Artur Viana entregue por Seu Zé de Lau, para restauro, tirada no Jardim da Luz em São Paulo Capital.
Data da Foto: 25/12/1917.
Post de Josedalva Farias dos Santos




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